'Jogaram ele lá e ninguém sabe explicar o que aconteceu': família acusa Samu de abandono após acidente que terminou em morte na Grande SP
14/05/2025
(Foto: Reprodução) Manoel Ferreira da Silva Neto, de 33 anos, foi encontrado cerca de 2,5 quilômetros de distância do local do acidente e não teria recebido o atendimento adequado. Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Mogi das Cruzes investiga o caso. Família acusa Samu de abandono após acidente que terminou em morte em Mogi das Cruzes
O Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Mogi das Cruzes investiga a morte de Manoel Ferreira da Silva Neto, de 33 anos, encontrado morto na manhã do último sábado (10), na avenida Anchieta, na Vila Paulista da Estação.
A família acusa o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a Polícia Militar, que também esteve no atendimento, de negligência. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o caso foi registrado como morte suspeita. A Polícia Militar foi acionada e a perícia esteve no local.
"Jogaram ele lá e agora ninguém sabe explicar o que aconteceu. A família quer ter paz, quer justiça e conseguir dormir em paz", exigiu um familiar que prefere não se identificar.
A vítima sofreu um acidente de motocicleta na Avenida Edith Inácia da Silva, na Vila Paulista, e chegou a ser atendida pelo Samu, mas não teria recebido o atendimento adequado e foi encontrada morta horas depois, a cerca de 2,5 quilômetros do local do acidente.
Manoel Ferreira da Silva Neto foi encontrado morto após sofrer acidente de moto
Arquivo Pessoal
✅ Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp
Um vídeo de uma câmera de segurança mostra o momento em que Neto bate com a moto em um caminhão guincho. Na sequência, o dono do veículo, que mora em frente onde o acidente foi registrado, sai para ver o que aconteceu e aciona o Samu.
O dono do caminhão gravou parte do atendimento realizado pela equipe médica, que tenta convencer a vítima a entrar na ambulância. Quando o homem aceita o atendimento, eles o puxam pelo braço para que ele se levante e entre sozinho na ambulância. Nesse momento, a vítima cai e a testemunha para de gravar.
O advogado da família, José Roberto Rodrigues, questiona os métodos utilizados pela equipe do Samu. Ele fala sobre um vídeo que conseguiu e teve acesso apenas a alguns trechos. Essa gravação já estaria com a polícia.
"Ficamos sabendo que existe uma filmagem de mais de 40 minutos e isso nos interessa. No entanto, não nos deixaram ter acesso. Nos mostraram um trecho onde aparece ele sendo tirado da ambulância e sendo deixado no chão. O Samu ainda fica por lá por uns 20 minutos e a Polícia Militar chega e não faz nada, deixa a vítima à mercê da morte", disse o advogado.
Ainda segundo o advogado, o Samu retirou Neto do local do acidente, mas o deixou em outro ponto da cidade. “A testemunha [dono do caminhão] confirmou que ele saiu no Samu. Então, essa versão de que foi encontrado abandonado é mentirosa”, afirmou.
A família também questiona a conduta dos socorristas e da polícia. “Se tivesse sido levado ao hospital, mesmo que não resistisse, teria tido a chance de receber atendimento.”
O familiar que preferiu não se identificar contou que Neto tinha ido a uma festa e, por volta das 2h, saiu para buscar comida. “A esposa dele estava com fome e ele foi buscar um lanche. Tem vídeo dele saindo do prédio. Depois disso, ela dormiu, foi trabalhar no outro dia e nada dele aparecer.”
Segundo o familiar, uma ex-companheira da vítima recebeu uma ligação às 8h, informando que ele havia morrido. “Falaram que ele estava abandonado em frente à favela. A gente achou estranho. Fomos atrás de câmeras. Uma mulher disse que ia liberar o vídeo, mas depois voltou atrás e disse que só entregaria para a polícia.”
O homem também afirma que recebeu um vídeo mostrando o momento do acidente e o atendimento do Samu. “Tem deboche. O cara do Samu parece que liga para a polícia e pergunta o que faz. Dá risada e fala: ‘joga lá embaixo’.”
A família contesta a versão oficial. Diz que o laudo não aponta ferimentos na cabeça, mas que, no caixão, havia uma perfuração no crânio “que cabia um dedo” e a mão do rapaz estava “toda ralada”. Também relatam que o celular, o relógio e o tênis dele desapareceram. “Até hoje o celular não apareceu. Achamos só o relógio”, contou o familiar.
Neto trabalhava como montador de móveis e, à noite, fazia entregas para uma adega. A família cobra explicações. “Como foi de madrugada, acharam que ele era 'um qualquer'. Mas ele era um trabalhador. Queremos justiça!", reivindicou o familiar.
O que diz a prefeitura
Por meio de nota, a Prefeitura de Mogi das Cruzes lembrou que o Samu é um serviço do Governo Federal, cujo atendimento de urgência e emergência, em Mogi das Cruzes, está sob a gestão do Cresamu, um consórcio que envolve seis municípios, cujo atendimento é gerenciado pela organização social Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS).
"Diante da ocorrência registrada e gravidade dos fatos, o Cresamu cobrou o imediato afastamento da equipe envolvida no atendimento – providência já tomada - até que todo o caso seja apurado, sob o rigor da lei. Também exigiu que todas as informações fosses disponibilizadas imediatamente às polícias Civil e Militar, a quem cabem às apurações dentro das esferas Civil e Criminal. O Cresamu segue acompanhando o caso e reforça que, em nenhum momento, o atendimento está dentro do protocolo exigido no que diz respeito à qualidade e excelência no serviço prestado, tanto na parte médica e, principalmente, humana", afirmou.
O INTS, responsável pela gestão do Samu, informou que uma apuração interna sobre a ocorrência já foi iniciada. Disse ainda que os funcionários envolvidos foram afastados preventivamente e que irá colaborar para a apuração de todos os fatos relacionados.
O que diz a Polícia Militar
A Polícia Militar divulgou uma nota afirmando que prestou apoio ao Samu e que, depois, teria recebido um novo chamado, dizendo que o homem tinha sido encontrado morto. Confira a nota na íntegra:
"A Polícia Militar de Mogi das Cruzes, por meio do 17º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), informa que na madrugada deste sábado (10), por volta das 4h45, a foi acionada via Centro de Operações da Polícia Militar (COPOM) para prestar apoio ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), na Avenida Anchieta, distrito de Brás Cubas, em Mogi das Cruzes.
A solicitação partiu da equipe médica que atendia um indivíduo envolvido em um acidente de trânsito. Segundo informações preliminares, o homem conduzia uma motocicleta quando colidiu com um caminhão que estaria estacionado na via pública. Segundo relato dos profissionais de saúde, no momento do atendimento o indivíduo apresentava comportamento agitado, chegando a sair da ambulância de forma abrupta, recusando a continuidade do socorro.
Com a chegada da equipe policial-militar, os profissionais do Samu relataram que o homem recusou atendimento médico, dispensaram o apoio policial e optaram por encerrar o atendimento no local.
Posteriormente, por volta das 6h, uma nova solicitação foi recebida pelo 190, desta vez por populares, relatando a presença de um indivíduo aparentemente em óbito pela Avenida Governador Adhemar de Barros. No local, a equipe policial-militar constatou que se tratava da mesma pessoa que havia recusado o socorro médico anteriormente.
Diante da gravidade dos fatos, a Polícia Militar instaurou Inquérito Policial Militar com o objetivo de apurar as circunstâncias da recusa de atendimento por parte da vítima, bem como averiguar eventual omissão de socorro.
A Polícia Militar permanece à disposição da sociedade para garantir a preservação da ordem pública e reitera seu compromisso com a transparência e a responsabilidade na apuração e o pleno esclarecimento dos fatos."
LEIA MAIS: Corpo de homem é encontrado em avenida em Mogi das Cruzes
Assista a mais notícias do Alto Tietê